quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Capitulo 16. Quase Mortos

- Porra Levy, como é que a gente vai meter bala nesses putos tudo? – Olho um pouco assustado para a porta, tinham mais de uma dúzia de zombies ali.

- Mermão, eu tenho uma doze, e tu ta com uma Glock.

- Mas esses putos são muitos e são rápidos caralho.

- A gente tem que tentar, se não ‘nóis’ morre aqui.

- Porra então ‘vamo’ nessa.

Andei lentamente em direção a porta de vidro, sabia o que tinha que fazer. Abrir a porta e sair atirando na maior quantidade de zombies que eu puder, e era isso que eu ia fazer.
Coloquei lentamente a mão na maçaneta e esperei o aviso de Levy para saber se estava tudo OK, quando ele deu o sinal eu puxei devagar a maçaneta pra baixo e abri a porta.
Os zombies praticamente voaram para dentro da Biblioteca.
Levy começou a atirar neles e eu não fiquei pra trás, sai atirando neles o mais rápido que eu podia. Um deles se desvencilhou dos outros e correu pra cima de mim, eu estava assustado, havia enfrentado zombies antes, mas não em tanta quantidade. Dei um passo pra trás e acertei ele na cabeça com a Glock, o que o fez ir pra trás, depois eu atirei na cabeça dele.

- CARALHO!

Ouvi o grito de Levy e olhei pro lado, ele tava cercado de zombies, eu então corri pra cima deles e comecei a atirar. Olhei pros lados e vi a arma de Levy caída no chão.

- Porra, fudeu! – Exclamei com um medo terrível de ter acontecido alguma coisa com o cara.

Mas eis que eu vejo Levy se levantar dentre os zombies e começar a acerta-los com socos e chutes.

- O QUE É QUE TU TÁ FAZENDO AI PARADO MANÉ? ATIRA NESSES PUTOS!.

Não pensei duas vezes, comecei a atirar nos zombies caídos enquanto Levy acertava os outros com socos.
Depois de um minuto mais ou menos todos os zombies estavam caídos no chão, Levy sentou-se na escadaria e sorriu, não sei como ele conseguia sorrir numa hora dessas, eu mesmo não teria tanto sangue frio.

- Esses ‘fela’ da puta quase me fuderam. Mas isso aqui! – Levy mostrava os músculos que havia ganhado com tanto esforço e malhação. – Isso aqui eu ganhei malhando, força bruta, às vezes é tão eficiente quanto uma arma.

Caralho, eu não pude deixar de rir depois de uma dessas. Olhei para a porta e corri para trancá-la novamente. Depois caminhei em direção a Levy e sentei-me ao lado dele.

- Porra, eu daria tudo por um L&M Black agora. – Falei ainda rindo pra ele.
- Mermão, essa porra vai acabar te matando – Ele vivia falando mal do meu cigarro.
- Nós já estamos mortos, mas ainda não sabemos disso, é impossível sobreviver a uma merda dessas. – Ri e olhei pro teto.
- Tu ta morto né? Eu vou sobreviver. – Levy tinha mania de ficar me enchendo o saco.

Pelo menos hoje eu não dormi, e se tivesse dormido, quem sabe nós estaríamos mortos agora. Olhando para fora eu consigo ver que está amanhecendo, toda aquela merda espalhada no chão da Biblioteca fedia e muito, mas estávamos a salvo. O que será que o dia de amanhã guarda para nós?

sábado, 14 de novembro de 2009

15

A caminhonete investiu em nossa direção. A gente estava quase no meio da rua, e foi preciso a gente correr para a calçada para não sermos atingidos. Ela continuou avançando, e não parou até colidir com o muro da igreja protestante que divisava com a padaria Pandany. A dianteira do veículo ficou esmagada quase que por inteiro. Os dois sujeitos da frente ficaram presos pela ferragem.

Os zumbis que estavam na carroceria saltaram para o chão como se tivessem acabado de descer de uma fila de carrinhos de montanha-russa. Eles transpareciam uma excitação canibalesca; no duro, olhavam pra a gente como se a gente fosse comida.

Apontei para a cabeça de um deles e apertei o gatilho, mas a arma deu uma guinada para cima e o projétil passou longe do alvo. “Merda”. Os outros começaram a atirar. Hugo atirava com uma destreza absurda. Ele apontava uma das pistolas na direção dos zumbis, enquanto mantinha a outra com o cano apontado para o céu, e atirava. Então fazia a mesma ação com a outra mão, e mantinha esse padrão. Ela fazia aquilo bem rápido, e enquanto eu dividia minha atenção entre o jeito como ele manipulava as armas e as contorções súbitas dos zumbis que eram atingidos pelos projéteis, eu constatei que a diferença entre a gente era tão grande que ele podia ser considerado um heroi naquela circunstância. No duro, sem puxar o saco.

Matheus e Elvison também atiravam, mas eles erravam quase todos os disparos. Cada um deve ter acertado em média uns dois tiros entre nove. Eles pararam por aí, porque todos os zumbis já estavam estirados no asfalto. Nem chegaram a substituir o pente: a coronha da glock suporta dez balas. Eu usei apenas uma.

Afinal, quando nos certificamos de que os alvos estavam todos no chão, Hugo suspirou e apoiou os punhos cerrados na cintura. – Porra, eu disse para vocês não desperdiçarem bala, seus comédias.

Ele deve ter usado todos os vinte projéteis. Se ele errou algum disparo, não percebi. Levy apareceu atravessando a porta da casa.

- Porra! Foi só eu sair para beber água... – Não sei se ele estava espantado com a aparição de zumbis num intervalo de tempo tão curto, enquanto estava lá dentro, ou se decepcionado por não ter chegado a tempo de enfiar algumas balas neles.

- Esses três tão precisando de umas aulinhas, Levy. – Hugo falou, referindo-se, a quem mais senão a nós três que não tínhamos aprendido nada com CS ou com Medalha de Honra? - Tá foda.

- Mermão – Matheus interferiu – é só questão de prática.

Hugo e Levy sorriram.

- O que não vai faltar é oportunidade pra praticar – disse Levy. Não era nada que a gente não soubesse. Pô, como poderiam se divertir com aquilo? Acho que eles estavam perdendo o tino.

- Ei – foi Douglas chamando a atenção de Hugo – arrumem dessas pra a gente, velho?

Ele se referia às armas, claro. Para ele e Tiago. Ótimo, pensei. Mais dois pra desperdiçar bala.

Hugo subiu sozinho para escolher o que iria emprestar a eles. Já tinha concordado com Levy que era melhor todos saberem atirar logo, pra evitar estorvos.

Afinal, estávamos todos armados como soldados preparados para uma guerra, malgrado a ausência de coletes e capacetes. Iríamos fazer uma “caminhada de reconhecimento”, para saber onde havia zumbis e quais áreas estavam livres. Eu tinha comido bastante. O mercadinho Tavares tinha sido violado, a entrada estava destruída, e a gente furtou alimentos. Fizemos o mesmo no mercadinho Central. Mas que fique claro: só arrombamos a entrada do primeiro. A do segundo já estava obstruída quando chegamos. E a conduta da gente não podia ser questionada nas circunstâncias em que estávamos. Era roubar ou morrer de fome.

Os grupos estavam prontos para a caminhada. Deixamos a Base, carregando bolsas com as coisas necessárias: pentes de bala, comida e água. Um dos grupos, com Hugo, Matheus e Tiago, seguiu em direção à rua do bar do pantanal. O outro grupo, eu Elvison, Levy e Douglas, seguimos até o final da rua, perto do Mega Pastel. Não havia um pé de gente ali, mas era possível ouvir ruídos. Vozes humanas, gritos, todos vindos da rua perpendicular à qual estávamos, e da qual estávamos separados pela Avenida Antônio da Costa Azevedo. Atravessamos a avenida e adentramos a rua. Ao passarmos da esquina, confirmamos.

Lá longe, mais ou menos na metade da rua, era possível ver uma concentração de pessoas caminhando em nossa direção. Não que eles estivessem vindo porque viram a gente: estavam se deslocando naquela direção antes mesmo de colocarmos a cara ali. Era impossível distinguir quem era gente e quem era zumbi àquela distância, então, por unanimidade, decidimos nos aproximar deles pela rua que se apresentava paralela àquela, à esquerda. Pegamos àquela rua e fomos adiante. Pretendíamos dobrar na primeira ruazinha que interligasse as duas, mas, após termos avistado uma, fomos compelidos a desistir desse intento: dois indivíduos irromperam por ela e vieram correndo em nossa direção. Levy ergueu a arma instintivamente, mas eu reconheci aquelas pessoas e pedi que ele parasse. Não estavam infectados, pois corriam normalmente e suas fisionomias eram completamente humanas.

- Caralho, bicho! - gritou um deles, parando de correr assim que nos alcançou. Era Raphael (oreia). Um cara baixinho e truncado. O outro parou pouco depois: era Aleson. Mais alto que o primeiro, porém mais magro, e usava boné.

- Deu o carai! – ele exclamou, quando viu o que a gente tava carregando. Raphael gritou “ei” e apontou para a rua de onde eles tinham saído: um grupo de zumbis irrompeu dali e se espalhou pela rua em que estávamos.

- Ei, porra, bora vazar daqui – Aleson pediu. – Vamo lá pra casa. A gente fez uma base lá.

Levy falou.
- Vocês não têm armas?
- Só duas, e alguns pentes. Meu pai e meu irmão tão usando elas.
- A gente vai dar um saca lá então. É longe?
- Não. Bora logo, pô!

Saímos dali antes que fôssemos alcançados pelos zumbis. Corremos rumo à casa de Aleson. Ao chegarmos à artol, vimos algo que nos deixou meio enjoados: corpos estirados no asfalto e em algumas calçadas, recostados aos muros, e havia sangue espalhado por tudo o que era canto. Retomamos a caminhada e chegamos a casa. Ela ficava em frente para uma padaria e ao lado da igreja católica conhecida como matriz, da qual ficava separada apenas por uma rua. Os muros da casa envolviam uma área bem extensa. Aleson abriu o portão e entramos.

Eu já conhecia o lugar, assim como meu irmão. A casa em si ocupava um espaço pequeno na grande área delimitada pelos muros. Havia um telhado alto erguido por colunas de concreto e madeira, e sob o qual se encontravam estacionados uns dois carros de aspecto tão velho quanto o das paredes descascadas da casa. Adriel, irmão mais velho de Aleson, e o pai dele estavam sentados em frente a uma saleta que ficava ao fundo da propriedade. A saleta atrás deles costumava ser usada para ensaios. Os irmãos tocavam baixo; um deles tocava na banda da igreja e o outro era músico profissional.

Adriel e o pai dele vieram nos receber.

- Ae! Deu o carai – foi o que Adriel falou quando se aproximou da gente.
- Eu to bem, e tu? – respondi, sorrindo.
- Os caras tão preparados. – emendou o pai de Adriel.

A gente conversou. Levy falou a eles sobre a outra base, explicou a respeito das armas e disse onde eles poderiam conseguir algumas e também munição.

Alguma coisa vibrou dentro da bolsa de Levy. Ele retirou um comunicador e pressionou um botão que havia nele, enquanto aproximava-o ao ouvido.

- Fala!... Sim. A gente encontrou uma base... Hem? Sério?... Beleza. Tô indo aí. – desligou.

Explicou para a gente que Hugo e os outros tinham encontrado uns zumbis perto do apartamento onde ele morava. Eles conseguiram dar conta, porque não eram muitos, depois subiram para pegar alguns pentes. Levy tirou da bolsa uma arma parecida com uma Bereta (estilo Worms) e alguns cartuchos e entregou-a ao pai de Aleson. Depois olhou para a gente.

- Cuidado ae, pessoal. Aprendam a atirar logo, carai.
Saiu.

Ficamos sentados esperando alguma mudança enquanto conversávamos. Tudo estava calmo durante algumas horas, e então aconteceu.

Um burburinho se propagou distante. Vozes estranhas e roucas, cujo volume aumentava com o avanço dos minutos e nos deixavam nervosos. Num certo momento as vozes se tornaram berros e sentimos o chão vibrar com os passos mórbidos daquelas criaturas – eles estavam passando bem em frente à base.

A gente se posicionou com as armas já preparadas. Ouvimos o ruído de uma pancada no portão de metal. Outra pancada. Uma mãozinha pousou no alto do muro, e uma cabeça emergiu pouco depois.

Eu atirei, tentando acertar a cabeça, mas errei. O projétil acertou o muro, perto da mão do zumbi, e arrancou um pedaço de concreto. “Melhorei um pouco” pensei. Outras cabeças irromperam ao longo do cimo do muro. Precisamos nos aproximar para evitarmos o desperdício de balas. Então metemos fogo.

Depois de alguns disparos, eu aprendi a controlar as guinadas consequentes da propulsão empregada nos projéteis. Desse jeito, eu passei a errar pouco. Mas foi preciso gastar quase três cartuchos.

O sangue fluía profusamente da cabeça dos zumbis atingidos, e escorregava pelo muro, formando uma pintura maldita. Se derrubássemos dez deles, outros dez os substituíam, e, em determinado momento, naturalmente, meus pentes acabaram. Douglas tinha acabado com os dele um pouco antes. Só restavam Adriel, o pai dele e Elvison. Depois de esse último disparar três vezes, a munição dele acabou. Dois zumbis conseguiram se infiltrar saltando o muro por um dos lados da casa. Adriel gastou algumas balas neles, e sua munição também acabou.

Olhei para o primeiro andar da casa de Aleson. Foi para lá que eu me arrastei, junto com Aleson e os outros. Atravessamos a porta.

Enquanto subíamos o lance de escadas, ouvíamos os dois últimos disparos da bereta. Depois só havia o farfalhar dos zumbis saltando o muro e, por fim, a batida das portas da frente e dos fundos da casa sendo trancadas por Adriel e o pai dele.

Agora era questão de tempo até aqueles desgraçados conseguirem derrubar as portas da casa e invadirem-na. A gente usou aquele tempo para observar da janela do quarto no primeiro andar quantos zumbis ainda restavam para então pensarmos no que fazer.

Foi aí que eu fiquei desesperado: ainda tinha um rebanho deles espalhado pela rua.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

14


Levi e Hugo nos contaram como conseguiram as armas. Era no mínimo curioso o fato de eles terem conseguido um gerador de energia e armas de fogo de diversos calibres. Não só pistolas, mas também rifles. Rifles. A curiosidade atingiu a quase todos nós, principalmente ao Seu Alexandre, que aparentava ter conhecimento sobre algumas daquelas armas. Ele detinha-se a observá-las com um vagar de quem parece saber muito mais do que se supunha que soubesse. Explicava minuciosamente às dúvidas do seu filho mais novo, respondendo até mais do que ele perguntava.


Enquanto observava os rifles e pistolas, eu avistei um sofá vazio. Cara, aquilo parecia o paraíso. Vazio. Lembro de ter dito a Levy algo sobre estar precisando deitar e dormir. Tombei no sofá e não me recordo de nada do que aconteceu depois disso. Tive um sono profundo e sem sonhos. Só um barulho distante me incomodou, mas era quase imperceptível. Outros sons se misturaram àquele barulho, provocando um ruído alto. Afinal eu acordei.


- ... erta os caras, carai. – alguém gritou.

- Eu não vi, porra! Eles tavam na minha mira. – Hugo replicou.

- Bora descer!


Eu saltei do sofá e vi Hugo e Levy correndo para as escadas, armados. Os outros continuavam ali, exceto os pais e o irmão de Matheus. Ele e Elvison estavam debruçados no peitoril da janela, observando alguma movimentação na rua. Eu me juntei a eles. Já era dia. Cacete, como passou rápido. O objeto de curiosidade era um grupo de pessoas brigando ao lado do Mercadinho Tavares. Pelo que pude ver, eram três zumbis contra dois caras. Limpei os olhos para enxergar melhor: os dois caras brigando com os zumbi eram Tiago (Venta) e Douglas (Noinha). Tiago tava usando como arma o que parecia ser uma chave de cano vermelha do tamanho do braço dele. Douglas tava usando... um pedaço de pau. Hugo e Levy apareceram lá embaixo e gritaram pedindo para que os dois saíssem de perto dos zumbis, que eles iriam atirar. Douglas e Tiago não hesitaram e correram para a rua em direção ao mercadinho Central. Os outros começaram a atirar. Houve uma ruído filho da puta de tiros repetitivos. Nós três que estávamos olhando da janela fomos forçados a tapar os ouvidos, tão alto era o barulho. Eu já estava começando a ficar perturbado com as matanças. Quando aquela merda iria acabar? Perguntava a mim mesmo, numa tentativa de me acalmar, e me lembrava de que aquilo era só o começo do dia.


Os disparos cessaram. Os três zumbis estavam estirados na calçada do mercadinho, tingida com o sangue deles. O mesmo sangue que escorregava no meio-fio e se perdia dentro duma boca-de-lobo.


Estremeci.

Matheus me chamou a atenção e me mostrou as armas que Levy tinha separado para a gente. Três pistolas semi-automáticas, e seis cartuchos, além dos que estavam nas armas.


Então seria assim dali pra frente.

Descemos as escadas. Precisávamos ter muito cuidado com as semi-automáticas, pois estavam já no ponto para disparar os projéteis.


Lá embaixo encontramos Douglas e Tiago conversando com os matadores.


- Deu o carai! – foi a reação de Douglas ao ver a gente com as Glock. Tiago reagiu com surpresa também, e soltou um “porra” prolongado, abafando a boca com a mão.


A gente conseguiu sorrir.

- Que arma do carai! – Elvison falou, referindo-se à chave de cano na mão de Tiago. – Gostei.

- É, e eu gostei da sua. Vamo trocar?

- Pois eu prefiro a arma de Douglas – Matheus disse – Dá pra furar um olho, né.


A arma de Douglas era um cabo de vassoura partido. A gente riu. Era um troço estranho conseguir rir com três corpos estirados bem do outro lado da rua e o cheiro forte de sangue. De qualquer forma, eu me sentia menos perturbado quando conseguia sorrir.


- Ei, eu vou lá dentro beber água – Levy disse. – Fiquem de olho aí, velho. Se aparecer mais daqueles putos não deixem Kerekexe atirando sozinho, não.

- Beleza – Matheus respondeu prestativo. Aproveitei e perguntei a ele aonde os pais e o irmão dele tinham ido. Ele respondeu que na casa duma tia aí. Fiquei surpreso que ele tivesse conseguido dissuadir o pai de arrastá-lo junto. Ainda mais depois de seu Alexandre ter visto a caralhada de armas que estavam espalhadas na casa de Levy.


Comecei a pensar na minha avó, não sei por que. Ela costumava ir lá em casa para conversar com a minha mãe. Era sempre a mesma conversa: mesmo que mudasse o tema, a estrutura da conversa não mudava, como se ela mudasse os nomes dos personagens e contasse a mesma história. E isso quando ela não contava mesmo uma coisa tinha contado. Minha mãe sempre olhava para mim e suspirava um “lá vem” quando ela começava a falar, porque já sabia o que estava por vir. Para melar ainda mais, como se não fosse ruim o suficiente ter que ouvir aquilo tudo, minha avó sempre se queixava de uma dor na têmpora esquerda, que ela enfatizava deslizando o dorso da mão do alto da cabeça até o pescoço. Sempre que falava dessa dor, ela fazia isso com a mão e apertava os olhos e tudo.


Minha divagação foi interrompida por um ruído de pneus no final da rua. Uma caminhonete vinda da rua do posto de saúde se aproximava de um jeito estranho, num ziguezague muito louco: o cara dirigia mal pra cacete. Enquanto a caminhonete se aproximava, eu pude ver que haviam uns caras em pé na caçamba, apoiando os braços no teto. Toda vez que o motorista fazia uma barbeiragem, virando prum dos lados da rua e freando, os caras perdiam o equilíbrio mas não caíam nem nada. Então eles começavam a rir. Os cretinos riam que nem umas hienas, e alto pra cacete, quando aquilo acontecia.


Havia mais gente sentada na caçamba e um no banco do carona. Quanto mais próxima da gente a caminhonete ficava, mais alto se tornavam as risadas, e a fisionomia deles só ficou clara quando o veículo já estava passando em frente ao mercadinho Central.


Aqueles caras...

Eram zumbis.


- Galera – Hugo começou. – na cabeça e no joelho. Não desperdicem balas, por favor.

Tá beleza, Hugo. Primeiro eu vou tentar acertar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

13

Lá dentro, enquanto a gente tentava arranjar um bom lugar no assento, vi que alguém jogava uma luz ali dentro, e por isso dava para ver perfeitamente todo mundo. Mas aí eu já estava com a minha lanterna apontada para a cara deles.

- Ei, porra, desliga isso aí! – Matheus pediu. Era ele quem tava dando a luz, com uma lanterna também.
- Foi mal – desliguei a minha. Olhei para a cadeira do motorista e depois voltei minha atenção para o banco onde eu estava – Seu Alexandre. Dona Gezil. Má hora pra pegar carona, né? – O irmãozinho de Matheus riu. Cumprimentei-o também – Ae, Rudá! Matheus. – cumprimentei o cara também. Meu irmão fez o mesmo com todo mundo, e então tentei descontrair um pouco. O carro tornou a se deslocar, só que agora num ritmo lento. Seu Alexandre pegou à esquerda, na rua que dava para a padaria (esqueci o nome) perto da lan house. Antes de alcançar a metade da rua, uma das laterais da van foi atingida por algo, e sacudiu um pouco. Rudá e Dona Gezil gritaram. Seu Alexandre perdeu o controle do volante, mas recuperou logo. A van deu um solavanco e depois seguiu normalmente. Todos pareciam estar muito tensos para falar alguma coisa. Lá no finalzinho da rua, antes de virarmos à direita para pegar a rua dos mercadinhos, alguma coisa enfiou o braço pela janela entreaberta do motorista. Seu Alexandre freou bruscamente, jogando a gente para frente. Eu meti a cara no espaldar do assento da frente, mas consegui me ajeitar e olhar para a janela a ponto de ver Seu Alexandre descer o vidro e erguer o braço para fora: ele estava apontando um tipo de pistola para a cara da coisa. Era uma pistola de cano muito curto. Bang!

Não teve ninguém ali dentro que não se assustou ao ouvir o disparo.

A coisa recolheu a mão para fora da janela, enquanto a gente tentava se recuperar do susto – pelo menos pelo que pude ver nos rostos dos outros, eles tinham ficado tão assustados quanto eu. Seu Alexandre se desculpou por ter feito aquilo ali dentro e perto de todo mundo, e disse que foi necessário. A gente assentiu; quem iria falar algo numa hora daquelas? Eu não tava afim.

Depois ele finalmente virou à direita na rua dos mercadinhos. O farol do carro iluminou as casas enfileiradas ao longo da rua. Vi um cara atravessando a porta da lan house e parando na calçada. Eu reconheci o sujeito, mas Matheus foi mais rápido quando falou: - Ei! Kerekexe! [1] Para a van aí, painho.

Seu Alexandre continuou lentamente até parar, mas, antes de se aproximar do cara e descer totalmente o vidro, ele murmurou algo para Matheus, num volume que com certeza não dava para Kerekexe ouvir. – Meu filho, a gente não sabe se ele foi infectado. É preciso ter cuidado.

A gente se esticou para vê-lo através da janela do motorista. Acho que não era sensato abrir a janela de trás.

- Que foi isso, velho? – Kerekexe perguntou um tanto sobressaltado – Foi o senhor quem atirou?

Ele falava com Seu Alexandre, que respondeu com um sim. Kerekexe estava mesmo assustado, mas eu reparei que ele também estava preparado. Segurava duas pistolas pretas iguaizinhas. Com a experiência que eu tinha adquirido de mangá e de Counter Strike, pude assumir que eram duas Glock. Agora, dizer qual era o calibre, aí eram mais quinhentos.

Enquanto eu contemplava as armas, uma pessoa saiu pela porta da lan house e se juntou a Kerekexe. Ele apertou os olhos para fitar o motorista.

- Opa, quem é? – Levy perguntou a Kerekexe.
- É o pai de Matheus.

Levy lançou um olhar para o banco de trás e reconheceu a gente, a mim e a Matheus. Não conhecia ninguém além de nós dois entre as pessoas que estavam ali. Levy era um cara mais ou menos forte. Tinha a pele morena e uma costeleta metodicamente aparada. Usava uma camiseta preta com o símbolo de uma caveira – o Justiceiro, se não me engano. Ele não parecia ser daqueles caras compulsivos por academia, pelo menos era o que eu achava. Não dava pra conversar com esse tipo de gente, dos que são tarados por academia. Sério, os caras só falam na quantidade de peso que conseguiram levantar no dia tal e ficam de minuto a minuto olhando pros próprios braços, como que com medo que eles diminuam uns dois milímetros de massa, e fazendo um ou outro comentário cretino. Eu achava que Levy não era desses, porque ele conversava com um pessoal gente fina como Marcos e Kerekexe, mas a gente nunca sabe.

Eu queria sair do carro. Dava para ver que nenhum dos dois tinha sido mordido.

- Êita, carai – Kerekexe exclamou – O bicho tá vivo ainda. Bora lá, Levy! – Ele e Levy correram pela rua em direção à padaria. Então começaram a disparar. Eu precisei me esgueirar para trás e mirar a lanterna para enxergar os dois. Só aí eu me liguei numa coisa: a lan house estava iluminada, e a casa de Levy, que ficava acima dela, também. Quando tínhamos chegado ali, eu estava tão assustado ao ponto de não ter percebido isso?

Seu Alexandre saiu da van. Aquilo me pareceu um aval, então eu abri a porta e saí também. Elvison e Matheus saíram em seguida. Apenas Dona Gezil e Rudá ficaram lá dentro. Ela perguntou, retoricamente, se não era melhor ficarmos dentro da van. Eu achava que não, e disse a ela que ficasse tranqüila, que a gente não iria se afastar muito.

Não menti, ficamos apenas alguns passos dela. Seu Alexandre estava só um pouco nossa frente. Matheus apontava a lanterna para o ponto onde Kerekexe e Levy estavam. Eu ainda segurava a barra de metal, assim como meu irmão. A gente não iria fazer muita frente às armas de fogo, e eu nem me sentia inclinado a tentar algo. Estava cansado pra burro. Olhei para as casas enfileiradas dos dois lados da rua. Não havia luz elétrica em nenhuma casa além da que ficava acima da lan. Afinal, os caras retornaram.

- E aí, velho, vocês neutralizaram o bicho? – seu Alexandre perguntou a Levy e a Kerekexe, quando os dois se aproximaram.

- E então – Levy respondeu, e depois meteu a mão no bolso e puxou um cigarro e um isqueiro.

- E aí, velho! – Kerekexe falou isso para Matheus. Eles se cumprimentaram, e depois meu irmão e eu o cumprimentamos. – Beleza?

- Arram – respondi. Ele riu quando viu o que nós dois estávamos usando como arma. Fez um comentário do tipo “carai, tu não é nada grosso hem”. Eu ri. – Fazer o quê, era só o que tinha.

Kerekexe. Esse era um apelido cabuloso de explicar, e não tem mais sentido chama-lo desse jeito. O nome dele é Hugo. Ele é um pouco menos que gordo: não pode ser considerado magro, mas também não tem nenhum hospedeiro na barriga. Hugo costumava ter o cabelo grande. Não grande de caído nas costas; era volumoso e encaracolado e ficava estacionado, crescendo na órbita da cabeça. Alguém, por sinal muito espirituoso, resolveu dar àquilo o nome cabelo de ninho de Kerekexe. Dizem que Kerekexe é o nome de um pássaro, mas eu procurei no dicionário de Aurélio e lá dizia ser o nome de um instrumento musical – o troço é chamado também de canzá. Criativo ou não, o negócio é que a porra do apelido pegou, e até hoje, mesmo o cara mantendo o cabelo sempre curtinho, as pessoas ainda o chamam Kerekexe. Agora só usam a última palavra do apelido. O próprio Hugo disse que até já tentaram diminuir para xereca. Porra!

- Ei, acho melhor vocês entrarem. – Hugo falou para a gente.
Seu Alexandre estava passando os olhos pelas fileiras de casas dos dois lados da rua. Provavelmente estava fazendo o mesmo que eu tinha feito pouco antes, constatando que a lan house e a casa sobre ela eram os únicos lugares – até onde a gente conseguia enxergar de onde estávamos – que tinham luz elétrica.

Afinal, ele perguntou aos caras o porquê. Foi Levy quem respondeu.
- A gente escolheu minha casa – ele apontou para a casa no primeiro andar – pra servir de base pra a gente se organizar contra os zumbis.

Ele disse zumbis. Eu preferia coisa, mas tanto faz o nome que tenham escolhido para aquilo.
- E a gente conseguiu um gerador de energia. – Levy concluiu. Então era isso.
- Na verdade – Hugo interveio – a gente furtou. Mas isso já é outra história. – Eu sorri. Elvison e Matheus também. – Enfim, bora entrando, pessoal. Antes que apareça outro merdinha daquele.

Levy se dirigiu a Seu Alexandre – O senhor trouxe mais alguém na van, não foi?

Eu quase tinha me esquecido dos dois lá dentro. Seu Alexandre foi até a van, abriu a porta e perguntou se estava tudo bem. Ouvi uma resposta. Depois ele se desculpou por tê-los deixado esperando.

Enfim, a gente entrou na casa de Levy – A base. Eu podia ter reparado nos detalhes da casa em si, mas outra coisa me chamou a atenção. Na verdade, aquilo deixou a todos nós com as sobrancelhas lá em cima: havia um arsenal de armas espalhadas por todo canto.

- Não reparem na bagunça. – Levy falou.


Nota
[1]: O nome é Querequexé, mas como o próprio dono do apelido escreve do jeito que tá no texto, eu escolhi deixar do mesmo jeito.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

12

Elvison enfiou uma das extremidades da barra de ferro na cara da coisa. Vou chamar de coisa porque eu não tenho um nome para aquilo. Acho zumbi muito clichê. A coisa caiu com o golpe. Adiantei-me para a estante da televisão e peguei as chaves. Pedi para meu irmão segurar a vela, para que eu pudesse abrir a grade. Não queria ficar trancado com aquela coisa quando ela conseguisse entrar. Após abrir a grade, larguei as chaves na fechadura e voltei para a estante para pegar a lanterna que meu pai costumava deixar ali. Meu irmão já estava lá fora. Fui até lá, correndo. A coisa estava de pé novamente, e começou a vir na nossa direção sem hesitar sequer um passo. Era um pouco mais alto que eu e tinha os cabelos pretos e curtos. Com certeza eu nunca o vira antes. Movimentava-se tão bem quanto qualquer humano saudável, ou talvez até melhor. No duro, o cara era rápido.

Meu irmão tentou acertar a cabeça dele com a barra de metal. A coisa se defendeu com o braço. Foi uma reação instintiva, igual como fazemos quando jogam algo na gente. Ele empurrou a barra bruscamente, tirando-a do caminho, e avançou para meu irmão, empurrando-o contra a grade. A chama da vela apagou, e só restava a luz da lanterna que eu mirava para os dois. Sem pensar muito, meti a barra de metal nas pernas do desgraçado. Com sorte, consegui derrubá-lo. Meu irmão largou a vela, segurou a barra com as duas mãos e começou a bater na coisa. Juntei-me a ele. Depois que comecei, eu não conseguia pensar em outra coisa.

Bater.

Minha mente estava toldada pela visão do rosto assustador da coisa e pelo som furioso emitido por ela.

Então, quando senti dormência no braço, eu parei. Encostei-me no muro pequeno de casa. Meu irmão parou um pouco depois. Ficamos observando a coisa enquanto ela se contorcia e gemia incapaz de se levantar. A gente deve ter quebrado quase todos os ossos da perna dela. Segurei-a pelo braço e pedi para Elvison segurar o outro, então arrastamos a coisa e encostamo-la na parede.

Focalizei meu irmão. Ele estava desgastado pra burro, precisava dormir mais do que eu. Enquanto o observava com a luz da lanterna oscilando, eu vi alguma coisa se mover entre as barras da grade, acima do ombro dele. Estreitei os olhos. Aquilo deslizou para fora e pousou no pescoço dele. Era uma mão pálida.
A mão o puxou bruscamente, antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, e bateu a cabeça dele na grade, depois o largou, e ele caiu como um saco de batatas. A mão se recolheu para e escuridão. Não desviei a lanterna, estava aterrorizado. Um rosto surgiu na luz, e eu reconheci. Mas não queria acreditar – era minha mãe.

- Não... – sussurrei. Os olhos dela estavam diferentes, vidrados. Estava sorrindo de um jeito que parecia insano. Uma figura emergiu das sombras e se posicionou ao lado dela. Era parecido com o cara caído no chão, e eu também não o conhecia.

Ele deve ter entrado na hora em que ouvi o barulho de parede sendo destruída. E eu pensando que ela tinha desmaiado mesmo. O que eu podia fazer com aqueles dois? Será que eu teria coragem de bater na minha mãe, mesmo ela estando transformada naquela coisa? Que terrível... Olhei para o cara. Eu estava muito puto. Ele era culpado por aquilo. Eu queria cortar a garganta dele, mas pena não poder entrar e pegar uma faca. Tudo bem, estava satisfeito em espancá-lo até a morte – ou o que quer que acontecesse àquelas criaturas quando eram espancadas como eu pretendia fazer. Ele veio primeiro, para minha sorte. Ótimo, era isso o que eu queria, filho da puta. Tu vai ver só, não devia ter metido teu traseiro por essas bandas.

Segurei a lanterna entre os dentes e, com as duas mãos, girei o bastão de metal em direção à cabeça dele. O miserável colocou o braço no caminho, fazendo o bastão desviar nele. Mas a força que eu botei no golpe o empurrou e o fez perder equilíbrio. Aproveitei a chance e desci o bastão nas pernas dele, derrubando-o. Se aquilo fosse uma brincadeira, eu teria até inventado um nome pra esse golpe. Mas o negócio era sério. Bati na cabeça do filho da puta, sem dó. Espanquei também os braços e as pernas dele, para incapacitá-lo.

Fiquei exausto quando terminei. Tinha perdido a conta de quantas vezes desloquei aquele bastão. Meus braços pareciam pesar mais do que todo o resto do corpo. O que me surpreendeu foi minha mãe ter ficado olhando o tempo todo, sem fazer nada. Posei a lanterna sobre o muro, mirada para ela. Quando levei a mão livre ao bastão, ouvi um grito feminino vindo de algum ponto da rua. Por curiosidade, mudei a posição da lanterna, apontando-a na direção aonde o grito tinha se propagado. Burrice. Senti uma pancada forte no peito e fui jogado direto para a rua, sem tocar a calçada. Putz, velho, como doeu aquilo, fodi minhas costas. A lanterna escorregou e caiu na calçada, pude escutar. A luz falhou por uma fração de segundo, e depois ficou firme, se estendendo pela rua. Dava para enxergar algumas coisas próximas. O bastão estava caído perto de mim. Corri para ele e depois para a lanterna. Tentei posicionar a luz para um ponto distante à minha frente e, bingo, minha mãe estava bem diante de mim, preparada para foder minha cabeça com uma pedra, mas alguma coisa acertou suas pernas com força, e ela despencou. Olhei para o lado – era meu irmão.

Olhei para minha mãe caída na calçada e constatei que ela não levantaria tão cedo. Os ossos dela já estavam muito fracos pela idade, e com uma pancada daquelas... Falei para o meu irmão para sairmos dali. Juntos, arrastamos nossa mãe para dentro da casa e deixamo-la trancada lá dentro. Peguei meus chinelos e então nos mandamos pela rua que dava para Jardim Brasil II, mas sem rumo certo.
Ao chegarmos na esquina, vi uma van se aproximando velozmente à nossa direita. Apontei a luz para ela. A van freou bruscamente bem na nossa frente. O motorista colocou o braço para fora da janela e esticou um pouco o pescoço – seu Alexandre.

- Danilo! Entre aí, meu filho! Depressa! – ele pediu agitado. – Quem é esse? Ah, o irmão dele? – disse, após ter ser respondido pela voz de Matheus.
Entramos na van.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Danilo (Relatos)




Capítulo 11. Mau Presságio

É difícil dizer quando isso começou exatamente. Aconteceu muito rápido, e eu percebi tarde demais. Parece que todo mundo percebeu tarde demais.

A propósito, eram dez e meia da manhã quando eu preparava meu desjejum: três pães assados e um copo de café. Não iria matar minha fome – que não era pouca -, mas já estava perto da hora do almoço e por isso não me importei com a quantidade. Depois de comer, fui até a lan house - .net – pesquisar uma baboseira para trabalho. Big era o apelido do cara que costumava atender os clientes no período da manhã. Paguei uma hora e fui acessar a um daqueles PCs cheios de vírus.

Coloquei para baixar o álbum de uma banda de Garage Rock. Talvez seja irrelevante comentar, mas sempre dava alguma merda quando você fazia download de alguma coisa naquela lan. Dessa vez não foi diferente. A janela indicava 93% quando o monitor estalou de repente, e a tela escureceu.

- Porra, que merda foi essa? – Perguntou o cara que estava sentado do meu lado. Eu me segurei para não rir da minha falta de sorte. Ele poderia pensar que eu tava rindo dele, o que não era totalmente mentira. Queda de energia era um troço que acontecia com grande frequência; era uma merda, mas eu não podia fazer nada. Levantei da cadeira. Uma menina perguntou a Big:

- Será que volta rápido?
A cretina perguntou isso. Nunca passou por essa experiência ou então sente prazer de perguntar toda vez que acontece.

- Não sei, visse. - Big respondeu. – Talvez demore a voltar.
Rá! Talvez demore. Senta e espera até amanhã, boyzinha.
Voltei para casa.

No caminho, dei conta de não ter escutado o som de nenhum aparelho de tv e, quando cheguei em casa, não tinha energia. Cacete... Iria me foder por não ter feito o trabalho, mas quem se importava?

Fui ler o livro que eu tinha pedido emprestado a um amigo. Amanhecer era o título, de uma tal de Stephenie Meyer. Desde que li o primeiro, me perguntei por que raios essa mulher não juntou os quatro livros da série em um só, porque a maior parte é enrolação. Para vender mais, é claro. E aquela merda tinha se tornado modinha, era um troço interessante de constatar. Talvez fossem pelos vampiros afrescalhados que brilham sob a luz do sol, ou a própria personagem principal maníaco-depressiva.

Apesar disso, eu lia. Para falar mal de uma coisa dessas é preciso conhecer. E eu já estava no final mesmo. O que é um peido pra quem já está todo cagado? Fiquei jogado na cama, lendo, até a hora do almoço. A energia ainda não tinha retornado, e usei palitos de fósforo para acender o fogão. Minha mãe tinha preparado quase tudo, então só precisei cozinhar algumas batatas para mim. Depois de almoçar, fui ao curso.
Não havia energia lá também.

Não haveria aula. Dia livre... Alguma coisa me intrigava – Que porra tá acontecendo?

No caminho até a parada de ônibus eu escutei partes de conversas. Tudo parecia muito irreal, mas convergia para um único assunto: “Lá em casa faltou energia hoje”.

Essa era a primeira vez que eu desejava chegar lá em casa e ouvir o som de qualquer porcaria que saísse da televisão, até mesmo aqueles programas do ligue para cá e complete a palavra, da redetv.
Mas não aconteceu.
Continuava sem energia. Puta que pariu! Os reptilianos não querem mais controlar a gente?

Tentei não dar tanta importância a isso. Lembrei que tinha acontecido algo parecido havia alguns anos, e não foi apenas uma vez. Porém, costumava acontecer à tarde e durava a noite toda.

Passou um dia... Outro... Mais um. E cadê a luz?

Era impossível se comunicar através da internet, e os telefones estavam mudos. Até por celular estava difícil manter contato. Algumas pessoas comentavam sobre o que poderia estar acontecendo, mas muita coisa do que diziam era fantasiosa o suficiente para não ser levada a sério. Pra piorar, comentava-se que coisas estranhas estavam acontecendo em vários lugares, como Rio Doce, Peixinhos e na praça do arsenal da marinha. Alguns sugeriam que essas coisas estranhas tinham relação com a falta de energia.

Era muita baboseira, mas algumas coisas das quais ouvi me assustaram. Foi numa tarde, quando eu estava conversando com alguns amigos, sentado num dos bancos largos e sinuosos da Praça Alvorada, que ouvi.

- ...Sim, Douglas, aí tu vem citar uma informação de uma merda de slide que tu viu na wikipedia, e quer que eu acredite? – falou um deles.
- E o que tem que seja da wikipedia? – Douglas retrucou. – Isso não quer dizer que a informação não é verdadeira, Matheus. Bota isso na tua cabeça. Assim tu não devia acreditar em nada que digitam lá, né foda.
- E quem disse que eu acredito?
- Ta, Matheus, quero discutir contigo não. Teu pai é foda, ele sabe de tudo mais do que todo mundo, pó.

Aí eu quase que não me aguentei. Aqueles dois viviam em conflito, um não aceitava o que o outro dizia. Era assim quase toda vez que a gente conversava.

Matheus olhou pra mim com cara de quem queria rir mas que achava melhor não. Eu respondi igualmente, e nós três ficamos em silêncio. Alguns segundos depois, quatro caras passaram por nós conversando sobre algo que chamou minha atenção.

- Sério, bicho. Ele disse que o cara tava estranho, os olhos meio avermelhados como se tivesse com conjuntivite. E não dizia nada, só resmungava. Depois o cara pulou em cima de uma senhora e começou a morder ela.
- Ôxi, doido! Que viagem. – respondeu o outro.
- Bote fé. Eu não acreditei muito, não. Mas, porra...

Os caras pararam de andar quando chegaram no muro que cercava o campinho da praça. Dois deles encostaram-se à grade que se estendia em cima do muro, e os outros dois ficaram de frente para eles, de braços cruzados. Continuaram a conversa, mas pouco depois puxaram um papo desinteressante.

- Vocês ouviram? – perguntei a Douglas e Matheus.
- Uhum! – Douglas respondeu. Eu conhecia Douglas de alguns anos. O pessoal costuma o chamar por Noia, um apelido herdado do irmão dele, por assim dizer. Um outro amigo da gente, Marcos, passou a chamá-lo por Noinha, e o negócio pegou. Afinal, eu continuo o chamando pelo nome, como todas as pessoas que conheço. Nunca gostei muito de apelidos. Se eu não souber o nome da pessoa, é inevitável. Mas uma hora tu tem que perguntar a fulano como ele se chama, certo?

- Eu ouvi também. – Matheus respondeu.
- Que vocês acham? – tentei.
- Bicho... – Matheus começou. – eu tô achando que meu pai sabe alguma coisa sobre isso. Ele tá saindo muito, e anda meio estranho.
- Estranho como? – indaguei.
- Tipo, ele tá escondendo alguma coisa. E tá preocupado demais.
- Talvez seja só por causa da falta de energia. – Douglas sugeriu. – Todo munto tá preocupado, pó.
- Ele tá preocupado com isso, sim, mas com outra coisa também. Peguei ele chorando em silêncio, uma vez.

Caralho... Então tinha mesmo alguma coisa acontecendo além do apagão. O que seria? O que o pai de Matheus tinha visto?

A conversa se estendeu, mas não havia nenhuma informação extra. Nem outra conversa interessante para ouvir. Mais uma noite de completa escuridão se ergueu sobre as ruas de Jardim Brasil. As pessoas saíam de suas casas cada uma com uma vela grudada num pires ou no fundo de um copo. Parecia uma procissão. Era ridículo, dessas coisas que só se vê em filmes e livros. Uma rua quase deserta em dias comuns agora parecia uma convocação do Papa numa catedral do Vaticano.

Dormindo eu estava ganhando mais, então fui me deitar. O sono não foi muito agradável. Sonhei que estava sentado no banco da Praça Alvorada e alguma coisa fisgou minha perna. Com o choque da dor, eu sacudi a perna instintivamente e olhei para baixo. Havia um velho abocanhando minha perna, como um cachorro. Tentei chuta-lo, mas não deu em nada. Às vezes parece que a gente perde as forças nos sonhos e fica incapaz de fazer até uma merda fácil dessa.

Chutei de novo. Dessa vez funcionou. O velho largou a perna e cambaleou para trás. Ele tinha arrancado um naco de carne, e minha perna agora ardia horrores. O nojento sorriu com a boca ensanguentada e com carne presa entre os dentes. De repente, ele assumiu a aparência do Papa Bento. Aquilo poderia ser engraçado em outras circunstâncias, mas naquela não era. Para piorar, várias pessoas surgiram por entre as ruas e becos que conduziam à praça. Todas carregando velas. Elas se aproximavam numa lentidão angustiante. Bento engatinhava em minha direção, um sorriso sádico estampando o rosto.

- Vai se foder, seu escroto! – gritei. Eu queria sair dali naquele instante, mas minhas pernas não se movimentavam. Porra, alguma coisa. Por favor.

Comecei a sentir uma pressão no braço. Estava doendo pra burro. A dor aumentou, e parecia não ter limite de subida...

Então acordei, arfando e transpirando feito doido.
Meu braço ainda doía muito, e constatei que era porque eu estava deitado sobre ele. Virei para o outro lado. Que alívio! Apesar de ainda doer, havia um formigamento aliviando a dor aos poucos. Meus batimentos normalizaram. Estendi minha mão para tocar a perna – estava inteira.
Merda. Vai ser foda conseguir dormir de novo.
Estava uma escuridão de breu. Eu fechei os olhos, para tentar dormir de novo, e foi quando aconteceu...

Um barulho de algo quebrando o vidro da janela da sala bruscamente. Meus olhos se arregalaram. Minha mãe, que dormia no quarto ao lado, despejou um grito o qual eu nunca tinha escutado antes – era um grito de horror.
Tateei às cegas, tentando alcançar a estantezinha próxima a cama. Tinha deixado ali uma caixa de fósforos, no alto de uma pilha de livros. Minha mão atingiu uma outra pilha, mais perto da parede. A pilha oscilou, mas não caiu nada. Ali eu podia deslizar os dedos facilmente, para tentar alcançar a caixa de fósforos.

Ouvi outra pancada na sala. Isso foi foda, me assustou de novo. Eu estiquei a mão sobre a outra pilha e acabei derrubando a caixa.

Puta que pariu. Essa porra só acontece comigo.
Esse pensamento me veio por hábito, mas em nenhuma das vezes anteriores eu estava suando frio como naquele instante. As pancadas insistiram dessa vez na parede. Minha mãe suplicava por ajuda, e eu gritei pedindo que se acalmasse. Já era difícil raciocinar tendo que ouvir o barulho de algum viking louco tentando derrubar as paredes da sua casa.

Debrucei-me sobre o chão e tateei freneticamente. Meus dedos roçaram em alguma coisa e a coisa chacoalhou. Deitei a mão ali – era a caixa. Puxei um palito o acendi. A chama fraca iluminou a estantezinha. Ali havia uma vela. Arrebateia- e aproximei o pavio para as chamas, queimando-o. Estendi a vela, indundando o quarto com luz. Meu irmão estava dormindo na outra cama. Na pressa, eu tinha esquecido que ele tava ali. Mas quem imaginaria que o miserável não iria acordar com um barulho daqueles. Qualquer outro dia eu tento com uma britadeira.

- Ei, Elvison! – o sacudi. – Elvison, carai, acorda!
Sacudi com força, e ele acordou.
- Hm? – perguntou. Eu nem me dei ao trabalho de responder. Uma pancada forte na parede fez isso por mim.
- Que porra é essa? – ele perguntou, saltando da cama.
- E eu sei, caralho? Vem, pega esse teu violão velho.
Atravessei a cozinha e peguei a barra de ferro que era usada como travessão na porta. Talvez para dar a sensação de que protegia. Meu pai acreditava naquilo porque era um hábito adquirido na casa dos pais dele.

Pelo menos serviriam dessa vez, mesmo que para um propósito diferente.
A gente se aproximou da sala. A luz da vela conseguia iluminar toda a sala, que era pequena. Tinha vidro espalhado pelo chão e nos sofás. Minha mãe silenciou... Talvez tivesse desmaiado, então não precisei conferir.
A coisa ainda batia na parede e, pelo que pude ouvir, tinha conseguido fazer um buraco.

- Merda... – Sussurrei.
Elvison largou o violão sobre o sofá e retirou a barra de ferro da porta da sala.

Ele estava mais tenso do que eu.
Percebi um movimento lá fora através do buraco da janela. Engoli seco. Um rosto humano apareceu ali, claro como cimento, os olhos vidrados e a boca entreaberta. Um som rouco se desprendeu da garganta dele.
Eu congelei. O que é isso, velho?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Capitulo 10. Mais uma morte

Aquela noite parecia tranqüila, nada aconteceu por muito tempo não sei como, mas consegui ficar acordado, mas até que o sono bateu, meus olhos começaram a fechar involuntariamente, então eu resolvi dar uma parada e ir molhar o rosto, saio do meu posto e vou em direção ao bebedouro molhar o rosto. Depois de alguns segundos ali eu volto ao posto ainda bem que o sono passou senão eu ia me ferrar bonito.

Alguns minutos depois eu vejo uma coisa que me chama atenção, uma pessoa correndo no meio da rua, a única coisa que eu consigo enxergar é o grande cabelo loiro dela. Ela corre na direção da Biblioteca e então percebo que uma dúzia daqueles monstros estão atrás da pessoa, ela corre e sobe as escadas tão rápido que mal dá pra acreditar, a pessoa põe os olhos em mim e corre em minha direção e começa a bater no vidro, percebo que é um homem que tem um olhar amedrontado, ele está ensangüentado e quase chorando.

Ele bate cada vez mais forte no vidro e eu vejo alguns daqueles monstros vindo em sua direção, eu abro a porta e o homem salta para dentro enquanto eu fecho rapidamente a porta, alguns dos monstros esbarram no vidro e ficam batendo nele querendo entrar.

Eu me viro para o homem e coloco a arma apontada para a cabeça dele

- Quem é tu filho da puta? – Eu pergunto irritado para o homem.

- Me-me-meu no-no-me é Lu-lu-lucca – Ele responde enquanto treme mais do que vara verde.

- Porra, o que é que tu tava fazendo no meio desses filhos da puta? – A cada letra que eu dizia mais eu me irritava com aquele homem.

- Eu... Eu estava protegido num lugar, mas acabei me fudendo pra esses viadinhos de merda e tive que fugir – Ele parecia um pouco mais calmo, mas freqüentemente olhava para o vidro achando que iria quebrar a qualquer momento.

Olhando para cima das escadas eu vejo Levy descendo-as com uma ‘doze’ em punho e olhando para a porta de vidro.

- Esses putos, porque tu não me avisou antes ‘fela’ da puta? – Ele parecia muito irritado com o que acabara de ver.

- Esses porras não vão entrar, essa merda foi reforçada a algum tempo, vai ser difícil eles entrarem – Falei calmamente para Levy ainda apontando a arma para o homem.

- E quem é esse ‘fidirapariga’ ai?

- Sei lá, é um idiota que tava fugindo deles e eu deixei entrar.

Levy chega perto do homem e olha-o de cima a baixo por alguns minutos, então ele dá alguns passos pra trás e põe a arma na cabeça do homem e dá um tiro, os miolos do homem voam pra cima de mim e o sangue salpica para tudo quanto é lado.

- Porque tu fez isso caralho? – Muito puto eu olho para Levy enquanto limpo meu rosto com a camisa.

- Esse ‘fela’ da puta tava infectado e ia fuder com todo mundo – Ele parecia tão puto quanto eu.

- Caralho, esse corno num ia me contar um bagulho desses, eu ia acabar me fudendo.

- É isso ai idiota, tu ia fuder todo mundo, DENOVO.

- Porra, e esses ai fora, o que a gente faz com eles?

- ‘Vamo’ tocar o terror PORRA, antes que apareçam mais.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capitulo 9. O Treinamento

O carro está correndo em alta velocidade, mas ao contrário do modo de Kerekexe, Levy corre e atropela alguns dos zumbis que estão no meio do caminho. Ele pega a mesma avenida que pegamos para chegar a resistência, e corre em direção a Presidente Kennedy, ele parece não saber para onde estamos indo e só quer se afastar o máximo dali, pegamos o caminho centro do Recife e ele ainda com o pé no acelerador.

Chegamos rapidamente na Cruz Cabugá e voltamos para o 13 de Maio, lá ele corre em direção a Biblioteca Publica e para defronte a ela, ele então salta do carro e pega algumas armas que estavam no banco de trás e vai em direção a rampa que leva para o primeiro andar da Biblioteca, eu faço o mesmo tão rápido quanto eu posso.
Lá ele abre a porta de vidro e olha em minha direção:

- ‘Fela’ da puta, tu fudeu com Kerekexe e agora tu vai ser ‘treinado’ – Ele falou em voz alta e bem séria.
Eu abaixo a cabeça e olho para meus pés, ele então me entrega uma arma e fala:

- Porra, onde é que tem rango aqui? To morrendo de fome.

- Lá em cima, é só subir que você vai ver uma porta branca, lá tem comida e água – Minha voz sai fraca, quase desaparecendo.

Ele então sobe as escadas e faz um movimento com a mão para que eu o siga, eu o faço rapidamente enquanto guardo a arma no bolso da bermuda. Lá em cima ele chega até o local onde haviam água e comida, e começa a abrir um enlatado de salsichas e comendo, eu apenas pego um pouco de água e bebo.
Depois de um tempo ele termina de comer e se levanta sério e diz:

- ‘Fela’ da puta, agora tu vai aprender como lutar contra esses putos.

Eu sabia como me cuidar sozinho, mas conhecimento nunca é demais e acabei o seguindo enquanto ele descia as escadas, lá em baixo ele me pediu para que eu empunhasse a arma que ele me deu, eu a retiro do bolso e agora eu a vejo mais detalhadamente uma pistola Glock 17 preta e com um cartucho cheio de munições, ele passa a tarde inteira me mostrando alguns movimentos, como atirar e táticas de como correr sem se cansar tanto, ao cair da noite eu já estava bocejando de cansado, ele então chega perto de mim depois de ‘jantar’ e fala:

- ‘Fela’ da puta tu vai ficar essa noite de olho nesses putos, e se tu dormir dessa vez quem morre é tu, que eu não vou me fuder por tua causa não.

Ele então sobe as escadas e desaparece nos corredores da Biblioteca, agora eu tenho que me segurar pra não dormir, amanhã será mais um dia cansativo...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Capitulo 8. A invasão

Tive um sono perturbado, um pesadelo terrível, são mais ou menos 3 da manhã quando Levy me acorda e pede para que eu faça a vigia, eu bocejo um pouco e abro os olhos direito, eu vou até o banheiro e molho o rosto para me acordar melhor, sento-me no sofá enquanto Levy me passa as coordenadas de como agir se algum desgraçado daqueles aparecer. Na verdade não estava preocupado com isso, estava pensando nas outras pessoas, será que existem mais sobreviventes? Ele fica lá, falando e falando e eu tento manter um olhar de interessado, mas na verdade meu pensamento está longe, muito longe. Estava pensando em Vanessa, que nunca mais tinha visto, em Marcos, será que eles sabem se virar? Bem, para estarem vivos até agora no mínimo eles devem ter aprendido como se defender.

Levy finalmente para de me dar as instruções, ele pergunta se eu entendi e eu apenas balanço a cabeça dizendo que sim, fico agachado no sofá agora apontando uma arma calibre ‘doze’ pela janela, ele então sai e vai descansar.

Os minutos parecem se arrastar lentamente enquanto estou ali, não acontece nada, a rua continua deserta e completamente destruída, o mercadinho defronte a casa de levy está completamente destruído, aguço meus olhos e consigo ver que as algumas mercadorias foram roubadas, outras estavam no chão, provavelmente foi Levy e Kerekexe que precisavam de água potável e alimento de verdade.

O sono começa a bater, meus olhos vão se fechando involuntariamente então eu finalmente adormeço. Acordo assustado, havia barulho do lado de baixo da casa de Levy, a porta de metal estava quase destruída e alguns monstros estavam quase entrando, no susto eu dou um grito:

- Porra, eles tão entrando!

Rapidamente eu vejo Levy se levantar, e correr em minha direção, ele olha rapidamente pela janela e começa a me sacudir.

- Como tu deixou esses putos chegarem aqui ‘fela’ da puta!

- Porra eu não tive culpa, acabei adormecendo sem querer.

- Aí é foda porra, agora fudeu...

Levy põe a mão na cabeça e olha pra baixo quando vê que dois daqueles monstros entraram no local, ele então grita:

- Kerekexe, esses fela da puta tão entrando.

E sacode uma arma para baixo. Kerekexe estava lá em baixo e eu não sabia, como eu pude deixar isso acontecer?

Kerekexe aparece na parte de baixo da casa de Levy e pega a arma, mirando para frente, ele então descarrega a arma em alguns dos monstros, mas alguns ainda sobrevivem e caminham furiosos na direção dele. Os monstros avançam rapidamente na direção de Kerekexe, um dos monstros morde o braço de Kerekexe que urra de dor, ele então pega no bolso de trás da calça uma coisa que se parece uma mini-uzi e começa atirar como um louco nos zumbis. Levy lá de cima ainda atirava nos zumbis e eu com a ‘doze’ na mão estive atirando também, depois que os monstros foram destruídos Levy desce as escadas e vai socorrer Kerekexe.

- Porra viado, tu vai ficar bem. – Disse Levy tentando acalmar Kerekexe.

- Tu sabe que não porra, tu assistia aquelas bostas, uma mordida e fudeu foi tudo. – Kerekexe parecia um tanto nervoso, mas não deixava transparecer.

- Porra, isso é em filme porra, tu vai ficar bem corno gordo.

- Dêem o fora daqui enquanto há tempo, o barulho pode ter chamado alguns desses putos pra cá, eu já to fudido, alguém tem que ficar vivo nessa merda.

Kerekexe parecia um tanto irritado com a insistência de Levy, ele então cai no chão e começa a gemer de dor, Levy rapidamente corre pelas escadas e sobe em casa e retira a escada do chão. Lá de cima ele manda um aviso de perigo para o outro grupo pelo Walkie-Talkie, então Levy corre para a cozinha e pega a maior quantidade de comida e água possível e coloca dentro de uma mochila, então ele me dá uma nova arma e diz:

- Fela da puta, Kerekexe se fudeu, a gente tem que sair daqui o mais rápido possível, porque se mais alguém morrer, eu te enfio bala porra!

Porra, eu matei Kerekexe, nunca me perdoarei por isso. Mas não é hora de me sentir culpado, lá em baixo Kerekexe havia se levantado, mas não era mais o mesmo Kerekexe de sempre, o mesmo olhar monstruoso dos outros zumbis estavam plantados nos olhos de Kerekexe, Levy então olha pra ele, balança a cabeça em sinal negativo e enfia uma bala na cabeça dele.

Levy pega a chave do carro e da um salto para a parte de baixo da casa e eu faço o mesmo, ele então abre a porta do carro e o liga rapidamente, quase dou um salto para alcança-lo, abro a porta e a fecho rapidamente, o carro então sai em disparada, pra onde eu não sei...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Capitulo 7. O Inicio

As batidas na porta ficaram cada vez mais fortes, e mais daqueles monstros agrupavam-se na frente do ‘refúgio’. Levy, já muito irritado pegou a ‘doze’ e subiu as escadas, da janela de sua casa, um por um ele foi destruindo os monstros, muita munição foi perdida, mas depois de uns dez minutos todas as batidas na porta se transformaram em um silêncio mutuo e sombrio.

Aproximo-me do computador de Levy e então começo a prestar mais atenção no noticiário, um homem vestindo um paletó azul marinho com uma gravata de listras pretas e brancas estava falando sobre o que ele chamava de ‘A invasão’, ele então fala sobre algum repórter que estava no local aonde supostamente aconteceu o primeiro ataque.

A imagem agora mostra um lugar onde estava acontecendo um enterro, uma pequena capela branca, com dois bancos de mármore e teto de madeira, a mesma estava coberta de flores em forma de arco e um caixão estava no centro dela, para ser noticiado pela imprensa esse enterro deve ser de algum famoso, não sei de quem, mas provavelmente é.

Muitas pessoas estavam ao redor do caixão, em destaque uma mulher que usava uma camiseta preta e uma calça colada chorava ao lado do caixão, ela parecia estar em torno dos 30 a 40 anos, seus cabelos negros estavam presos num coque e ela usava um daqueles chapéus engraçados que você só vê em filmes, duas crianças ao lado dela, também choravam, um garoto e uma garota, o garoto parecia ter seus 10 anos de idade, tinha cabelos loiros e pele branca, trajava-se de preto do mesmo modo que a mulher, a outra criança era uma menina que aparentava ter 8 anos, estava inquieta num choro profundo e solitário, tinha cabelos negros e uma pele pálida.

Enquanto várias pessoas aproximavam-se da mulher e lhe abraçavam, uma coisa chamou atenção, o morto se moveu, todos olhavam para o caixão e o repórter aproximava-se do caixão o bastante para notar um homem velho, com cabelos brancos e curtos usando um paletó azul, ele moveu-se mais uma vez, parecia estar tendo espasmos, num momento repentino ele se ergueu do caixão, sua feição era de ódio, ele olhou para a mulher ao seu lado e avançou em cima dela, mordendo-lhe um pedaço do pescoço, a balburdia começou, as pessoas corriam de um lado para o outro enquanto o ‘morto’ avançava em mais alguns homens e mordia-lhes o que estivesse ao seu alcance, o câmera fitou a mulher caída no chão, ela estava sendo tomada por espasmos que quase a faziam saltar do chão, do mesmo modo em que o homem se levantou, ela ergueu-se com o mesmo olhar de ódio e avançou em cima do câmera, que deve ter-lhe acertado com a câmera pois depois disso não se viu mais nada a não ser a câmera no chão e gritos e mais gritos das pessoas, a câmera então apagou-se e após isso a imagem voltou ao homem da reportagem que lamentou o fato e despediu-se.

Após isso, eu sentei-me no sofá e suspirei, então foi isso o que aconteceu, pensei.

- Que porra foi isso? – perguntei a Levy.

- Essa porra começou assim, e acabou se espalhando. – ele respondeu.

- Caralho! Não tem idéia de como isso aconteceu?

- Parece que esse doido tava metido em uma treta do governo, não deu pra saber muito, pois o jornal omitiu os fatos por algum tempo até a merda se espalhar por inteira.

- Esses filhos da puta, sempre pensei no dia em que isso foi acontecer. – eu estava enfurecido, na maioria dos filmes acontecia isso, o cara se metia com porra de armas químicas e fodia todo mundo.

A conversa com Levy foi interrompida por um barulho que me parecia muito um Walkie Tokie, Levy correu em direção a sala e pegou o aparelho preto com apenas um botão e com uma antena.

- Levy na escuta – Ele falou com a boca no Walkie Tokie.

- Como vocês estão, conseguiram os suprimentos e munições? – A voz de uma mulher do outro lado do aparelho soou como música.

- Conseguimos mais do que isso, achamos um sobrevivente, e tu não vai acreditar quem é.

- E quem seria ele? – A mulher do outro lado parecia apreensiva e o tom de voz dela mudou um pouco.

- Rodrigo, Demônio dos Infernos.

- Puta que pariu! – A mulher parecia estar satisfeita com a resposta dele, eu ainda não consegui identificar a sua voz, mas pelo visto ela me conhecia.

- Esse ‘fi de rapariga’ tava escondido lá na Cruz Cabugá, o bagulho lá ta ‘quente’, quase que a gente tomou no cu pra resgatar ele.

- Porra, ainda bem que vocês escaparam dessa. – A mulher continuou a falar, mas o som começou a ficar abafado e sua voz distorcida, não dava para entender muita coisa.

- Essa porra aí ta precisando recarregar, depois a gente se fala, câmbio e desligo – disse Levy a mulher e desligou o comunicador, deixando-o em cima da mesa do computador.

Ele e veio em minha direção e me deu uma tapinha no ombro.

- Era Cagaus, ela ta bem, ta escondida junto com a segunda resistência, achamos melhor não ficar juntos porque senão se um dia esses putos chegarem a entrar aqui, não morremos todos, a gente se fala todo dia e ela traz noticias e nós damos noticias a ela, juntamente com ela estão Vanessa, Marcos ‘Dentinho’ e Biel, ele é o único que sabe dirigir bem deles e por isso ficou por lá.

Aliviei-me em saber que o puto do meu irmão estava vivo, sentado ali no sofá fechei os olhos devagar e vi que Levy descia as escadas, acabei pegando no sono e descansei.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Capitulo 6. A Resistência

Como havia imaginado estamos indo em direção à Jardim Brasil, não tenho certeza se é o I ou o II, dobrando perto da feira de Peixinhos já imagino que estamos indo para o II.

Minha perna doía tanto que eu não percebera o motorista, olhando-o freqüentemente imagino quem seja, mas não falo.

Depois de atropelar alguns dos monstros e seguir pela rua que leva ao terminal, após alguns minutos chegamos a resistência, o local que antigamente fora uma lan house, a mesma fica em baixo da casa de Levy, saio do carro rapidamente e entro no local, está deveras arrumado, havia ali muitas armas e munições, sento-me no chão e não me importo com o que acontece ao meu redor, mas quando o motorista aparece na minha frente sei de quem se trata.

- KEREKEXEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! – eu grito.

- FALA VIADO! – ele responde.

- Porra, eu pensei que tu tava morto, eu quase morri muitas vezes, mas tenho uma grande sorte – respondi não olhando em seus olhos, pois a minha perna doida muito.

Alguns minutos depois, vejo que há um buraco que liga a casa de Levy à lan house. Levy não fala muito, parece um tanto abatido, Kerekexe sempre com suas piadas idiotas me fez rir algumas vezes, mas o clima estava pesado e não parecia muito agradável. As escadas eram de madeira e pareciam estar bem frágeis, pois quando uma pessoa ia subir a outra tinha que segurar as escadas.

Consigo depois de alguns sacrifícios me levantar, finalmente olho a lan house, ela estava destruída como qualquer outro lugar que eu passei, computadores no chão, o chão e as paredes completamente manchados de sangue, e o piso estava um tanto destruído, as paredes tinham buracos de balas. Levy me faz um sinal para que eu suba as escadas com ele, eu manco em direção as escadas e consigo subi-las com um tanto de sacrifício, lá em cima vejo a casa dele, um tanto diferente desde a ultima vez que a vi, manchada de sanghe e com vários buracos de bala, como a lan house.

Ele então me leva até o computador e me mostra um noticiário, o noticiário conta sobre o dia da ‘invasão’ de zombies, mas não há muitas informações.

Eles mostram apenas quando tudo começou e que em pouco tempo Pernambuco inteira estava sobre o domínio desses monstros. Enquanto o noticiário mostrava as noticias, eu ouço uma batida grande na porta, a batida se transforma em batidas e começa a destruir a porta que é de metal, o metal começa a amassar, olhando pela janela vejo uma dúzia daqueles monstros batendo na porta, eles devem ter sentido nosso cheiro e vieram diretamente pra cá.

E agora, o que acontecerá?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Capitulo 5. Manchado de Sangue.

Subindo as escadas e chegando ao telhado da Biblioteca, consigo plenamente ver a cidade e vejo também não conseguirei escapar por ali, pois é longe demais dos outros telhados além de ser mais alto do que eu imaginava.

Desço as escadas e começo a pensar, lembro-me do tempo em que eu roubava jambo com o meu irmão no terreno que ficava atrás da Biblioteca. Pronto, por ali eu conseguirei escapar facilmente.

Desço as escadas que dão acesso ao primeiro andar da Biblioteca, vejo pela porta de vidro novamente o caos que se transformou o centro do Recife, abro devagar a porta de vidro, evitando qualquer barulho e desço a rampa de acesso à ‘ala infanto-juvenil’da Biblioteca.

Começo a andar cautelosamente por trás da Biblioteca e vejo a árvore de jambo, subo nela rapidamente e passo pelo muro, se não fosse o andaime. Peguei um pouco de fôlego e pulei, consegui segurar-me no andaime e com um pouco de esforço consigo subir e ‘escalo’ até o telhado do prédio.

Caminho vagarosamente até a outra extremidade do prédio e vejo a distancia entre o outro prédio, mais ou menos 7 metros, será que consigo pular? Se não conseguir irei morrer ou pior, irei me transformar em uma daquelas criaturas abomináveis, dou uns passos pra trás e começo a correr, pulo e consigo me agarrar num tijolo e no desespero consigo subir no outro local. Olhando para o local percebo que estou no ‘estádio’ do colégio. O telhado é feito de telhas frágeis por isso caminho lentamente, qualquer passo em falso eu cairei e provavelmente morrerei.

Escuto um barulho de balas e de um carro, olho rapidamente para o lado e vejo um Kadett roxo passando pela rua, animo-me e ando rápido para mostrar que alguém está vivo por ali, nisso a telha quebra e eu caio no chão, com a perna doendo não consigo me levantar, vejo uns 3 desses monstros vindo em minha direção e fecho os olhos, morrerei aqui, depois de tanto tempo, só que invés de senti uma mordida, escuto o sons de balas e abro os olhos, um homem alto e moreno acabou de salvar a minha vida, olho atentamente para ele, eu conheço esse homem...

- Morre ‘fela’ da puta.

Reconheço essa voz...

- Dromedário do CAPETA. – eu grito.

- ‘Bukakkeiro’dos infernos – ele responde.

Porra, Levy está por aqui... Finalmente alguém VIVO...
Ele me ajuda a levantar e me leva em direção ao carro que eu havia visto, um outro homem um tanto gordo estava no carro e atirava nos monstros que chegavam perto, entro rapidamente no carro juntamente com Levy e o carro segue em disparada dali, passamos pela Cruz Cabugá, que parecia mais um campo de guerra...
- Isso parece o Apocalipse, está tudo manchado de sangue – penso.

O carro segue em direção à Olinda, e de lá o motorista segue pela Avenida Presidente Kennedy, atropelando alguns daqueles monstros. Eu imagino pra onde estamos indo. Jardim Brasil... Meu bairro, minha casa...

Estou salvo agora... Será?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Capitulo 4. Plano de fuga.

Àquela tarde transcorreu muito bem, não sei há quantos dias eu me alimentei somente de jambo, mas finalmente consegui uma refeição decente, ou quase.

Comi bem, mas não muito, não posso enfrentar esses bichos estando pesado de tanto comer, coloco ainda algumas comidas e bastante água na minha mochila, não pretendo ficar preso aqui o resto da vida.

A noite cai e o sono começa a bater, a falsa sensação de segurança me fez pegar no sono, resisto o máximo que posso, mas acabo sendo derrotado pelo sono e adormeço ali mesmo no chão.

De manhã eu acordo um tanto assustado, esfrego os olhos freneticamente, me levanto e vou olhar o local, me alivia a consciência saber que a porta de entrada que dá acesso à Biblioteca ainda está fechada, após a vigília subo novamente as escadas e vou pegar algo para comer.

Depois de alimentado eu me recordo que aqui havia computadores, corro em direção a sala que dava acesso a esses computadores, empunho mais uma vez a faca e abro a porta devagar, “Como está devastado esse lugar” penso, o local está tão destruído como qualquer outro local do Centro. A sala de computação é espaçosa, paredes brancas, e grandes janelas com cortinas verdes davam ao local uma aparência amigável, pelo menos davam. O lugar está completamente diferente da ultima vez que vim aqui, há computadores jogados no chão, bagunça de papéis, mesas viradas e sangue pelo local, alguns computadores permaneceram ainda nos seus lugares, aproximo-me devagar de um dos computadores e tento ligar um deles, a minha sorte é que o gerador de energia ainda funciona e com isso o computador liga, com os olhos cheios de esperança começo a olha-lo funcionar, mas toda a minha felicidade se esvai quando percebo que está sem internet, o maldito meio de comunicação mais usado hoje em dia.

Saio enfurecido da sala e caminho até a minha bolsa, colocando-a nas costas, estou disposto a sair daqui nesse exato momento, então começo a planejar um meio de fuga para que esses monstros não me peguem, meus pensamentos voam longe novamente. Lembro-me bem de quando vinha na Biblioteca apenas para beber água ou trocar de roupa no banheiro era sempre uma bagunça, meus amigos será que estão vivos? Não tenho tempo para pensar nisso.

Levanto e olho para o teto, que idéia genial, eu posso fugir pelo telhado. Começo a trabalhar numa maneira de chegar ao telhado e sair vivo de lá, sei que ao lado existe um colégio, mas me recordo que à distância entre os muros é grande mas eu tenho que tentar, procuro ali por cima algum lugar que de acesso ao telhado da Biblioteca, deve existir algum.

Caminhando eu vejo uma sala com uma placa “Apenas Funcionários”, caminho em direção a porta e abro-a lentamente, não é surpresa quando eu vejo uma escadinha de ferro que dá acesso até o telhado do local.

Finalmente, sairei daqui.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cap 3. Matar para viver.

O senhor rasteja em minha direção, percebo que ele não tem uma das pernas, nem por isso devo subestima-lo.

Seguro firmemente a faca em minha mão quando ele avança em mim, giro a faca desengonçadamente no pescoço do monstro, a faca corta a pele necrosada do senhor, antes que eu pudesse fazer alguma coisa ele avança com uma bocada no meu ombro, consigo empurra-lo e tento puxar a faca que por maldição do destino ficou presa no pescoço dele.

Mais uma investida dele e sinto seu hálito fétido na minha cara, apoio meu pé no que era pra ser o estômago dele e tento mais uma vez puxar a faca.

Desequilibrado vou caindo para trás, mas consigo me segurar numa parede, ele vem pra cima de mim mais uma vez, dessa vez giro mais precisamente a faca, que decepa a cabeça do monstro que cai no chão imóvel. Corro pra cima dele e começo a esfaqueá-lo, quero ter certeza que ele não vai se levantar de novo.

Após alguns segundos percebo que ele não se move mais e eu estou coberto de sangue, saio de cima do morto e respiro fundo.

Estou cansado, me jogo em uma das cadeiras e tento relaxar.

- Acabei de matar um homem, matar para sobreviver...

Jogado na cadeira ouço um barulho, a mulher está aos prantos ainda viva no chão, me ergo com a faca em punho e me agacho até ela, as palavras vão ficando mais nítidas, percebo que não há perigo, guardo a faca no bolso e a ajudo a levantar, ela se movimenta com dificuldade e aos poucos consigo coloca-la numa cadeira, saio do auditório e vou até o bebedouro, pego um pouco de água para ela e entrego-lhe.

Aos poucos ela vai se acalmando, para de tremer e consegue falar normalmente, ela vira-se pra mim e diz:

- Muito obrigada por me salvar, achei que morreria ali.

- Não se preocupe - respondi friamente pra ela, nunca fui de conversar muito, principalmente numa situação dessas...

- Qual o seu nome? - ela insistia em continuar a conversa.

- Rodrigo...

- Meu nome é Anne...

Levanto-me rapidamente, estava cansado e tudo o que eu queria era comer alguma coisa, não queria ficar papeando com alguém, apesar de que em dias, quem sabe semanas, ela foi a única pessoa que não estava interessada em minha carne que eu conheci...

- Calma, calma guri - Anne tentava se levantar, apoiada nas cadeiras, ela sorri...

- Você parece estar com fome, eu conheço esse lugar por inteiro, estoquei comida aqui, se você esperar posso te levar lá...

Estendi a mão para ela que se apoiou no meu ombro, seguimos do auditório até a entrada da biblioteca e subimos as escadas para o acesso a ala superior, lá ela me guiou até uma sala, abriu a porta e ligou a luz. O local era pouco iluminado, a luz estava ficando escassa, fiquei curioso em ver que ela realmente havia estocado vários enlatados ali, carnes enlatadas, salsichas, chocolates e muita água...

Estava atrás dela, respirei fundo, enfiei a mão no bolso da calça e retirei a minha faca, caminhei até ela e com todas as minhas forças enfiei a faca nas costas dela, descendo a faca até o final de sua coluna, ela caiu para trás e me olhou fraca, caída no chão ela murmurou:

- Por. Porque?

Friamente meus olhos percorrem os olhos da garota...

- Não há escapatória, uma vez deadtite, sempre deadtite!*

Ela foi fechando os olhos lentamente até que parou de respirar, eu ainda com a faca em punho degolei a cabeça dela e fui arrastando-a para fora da sala...

Agora sou eu, e somente eu...

* Rodrigo usa a fala de Ash no HQ Marvel Zombies vs Army Of Darkness