sexta-feira, 23 de abril de 2010

Capitulo 21. Funeral

Após entrar na ‘nova casa’ eu finalmente me sinto mais tranqüilo, consigo até relaxar as mãos que viviam próximas à cintura onde guardava minha arma. O local era grande e bem dividido, com paredes e o chão em coloração vermelho, tinha pequenas divisões de paredes que o pessoal colocou uns lençóis tipo ‘cortina’, O local era iluminado por lâmpadas fosforescestes e a energia era tirada de um dos tantos geradores que havia ali. Mais atrás tinha uma outra saída, mais tarde eu poderei olhar o local.
Cacau então olha pra Marcos e diz:

- Ô projeto de demônio, vai colher umas verduras lá atrás. – Ela parecia um pouco tensa, mas todos nós estamos tensos desde que toda essa merda começou.

- Beleza – Foi a única resposta do meu irmão que foi andando lentamente para os fundos.

- ‘Perai’ que eu vou contigo – Disse uma voz que eu demorei a recordar, mas quando o dono da voz apareceu eu me lembrei que era Almino.

Os dois partiram em direção aos fundos e Cacau começou a me olhar estranho, um olhar severo, triste e vago ao mesmo tempo, ela começou a caminhar até mim e me deu um soco na cara, eu fui pra trás um pouco mas não cai.

- TU MATOU O MEU IRMÃO FILHO DA PUTA! – Ela deixava escorrer algumas lágrimas enquanto falava aquilo.

Abaixando a cabeça, eu agora sei o que é que Levy, Biel e Cacau conversaram enquanto eu estava entrando.

- Se tu quiser me matar, ‘tem treta não’, todo mundo vai morrer mesmo, pelo menos eu fico livre dessa porra primeiro que vocês. – Eu levanto a cabeça e encaro Cacau nos olhos.

Ela me fita com aquele olhar e se vira, eu me sento em algum canto e começo a pensar em quanta merda eu vivi pra chegar até aqui. Alguns minutos depois Vanessa senta perto de mim e me da um beijo na bochecha sorrindo.

- Não liga não, ela anda estressada esses últimos dias. – Ela continua sorrindo e me abraça de novo.
- Eu não ligo, por minha causa Kerekexe está morto, ela pode fazer o que quiser.

O silêncio toma conta do local, a única coisa que se ouve são os grunhidos medonhos dos zumbis que ficam batendo na porta e as gargalhadas de Marcos nos fundos.
Depois de quase uma hora, Marcos já havia voltado e colhido uns tomates e umas alfaces.
Conseguimos uma refeição não tão boa, mas nutritiva, logo depois do almoço, quando Cacau havia contado a todos os recém acontecimentos, todos fomos para fora da Artol. Alguém conseguiu fazer uma cruz de madeira que fincamos no chão, como se estivéssemos enterrando Kerekexe naquele momento, Cacau olha pro céu azul, sem nuvens e fala:

- Ele era um bom irmão, mesmo que a gente brigasse tanto.
- É... Ele era um cara ‘du caraio’ – Levy completa a frase de Cacau.

O ‘funeral’ durou mais algum tempo, quando já estava anoitecendo todos entraram na Artol e fomos descansar, enquanto Levy fazia um turno de vigília.
Nada além dos grunhidos se ouvia e um vazio começava a tomar conta de mim.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Capitulo 20. Salvos, por enquanto.

O silêncio que se abateu por nós foi quebrando gradualmente enquanto outras pessoas da resistência iam chegando, eram elas Cacau(a irmã de Kerekexe), uma garota alta e ‘fortinha’, com um piercing na sobrancelha e o cabelo bem curto, é a primeira a aparecer. Ela abre um sorriso assim que vê Levy e corre pra abraça-lo, um rapaz magro e alto chega logo em seguida, demoro um tempo para perceber que aquele cara é meu irmão, ele está diferente, com o cabelo cortado, se minha avó o visse agora diria “Esse ai ta parecendo gente agora”, apesar de mais magro do que o normal, ele vem em minha direção e me dá um ‘cascudinho’, eu só riu e dou um ‘chutinho’ nas pernas dele. Lá de dentro ou ouço um ‘grito’ de uma pessoa. “Haha, eu reconheço esse escândalo todo de longe” – Eu voava nos pensamentos imaginando minha avó falando aquilo. E como eu disse, uma garota sai de dentro das portas da Artol e corre em minha direção ‘se jogando’ em cima de mim e diz:

- Porra bitcho, tu ta vivo porrinha... – Dizia ela sorrindo e me dando um beijo na bochecha.
- E tu acha que eu vou morrer assim tão fácil Vanessa? – Rindo eu a abraço e dou um beijinho na testa dela.

Vanessa era uma grande amiga minha nos tempos de vadiagem no 13 de Maio, uma garota da minha altura, com cabelos curtos e pretos, magra até demais.

- Então, são só vocês? – Eu olho ao redor enquanto aceno para Cacau.
- Não mane, o Almino ta lá dentro lendo algumas revistas de computadores, ele ainda quer ser um ‘TECNONERD’, mesmo com essa coisa espalhada por aqui. – Marcos falava enquanto todo mundo caminhava pra dentro da Artol.

Levy, Cacau e Biel conversavam sobre algum assunto que eu não conseguia entender, na verdade eu nem queria entender... “Porra, meu irmão ta vivo, nunca pensei em agradecer um negocio desses, mas nas atuais condições, quanto mais gente viva, melhor” – Eu pensava comigo mesmo.
O sol já queimava minha cabeça, acho que é hora do almoço.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Capitulo 19. A Outra Resistência.

O caminho da Cruz Cabugá até a Presidente Kennedy foi terrível, Levy não falava nada, mas eu sabia que ele estava muito puto comigo, mas também eu sei a merda que fiz.
Já na Avenida consigo ver realmente o estrago que foi feito, não havia reparado nas condições que ela se encontrava da última vez que passei por aqui. Tudo destruído, vários carros batidos e virados, muito sangue, muitos corpos, uma desgraça total, desde que essa merda começou a não lembro quanto tempo TUDO virou uma grande bola de merda.
O caminho da Avenida até a entrada de Jardim Brasil foi tranqüilo aqueles monstros não nos atazanaram tanto, Levy então fala sua primeira frase em 30 minutos:

- Pega a porra do Walk Talk que ta na minha mochila. E passa pra cá... – Ele parecia calmo demais, e isso é o que me dava mais remorso.

Eu virei de costas e fui na mochila dele procurar o Walk Talk, depois de um tempo eu encontro desligado jogado no fundo da mochila, eu pego e dou a ele.
Levy liga o Walk Talk e sintoniza-o enquanto aperta o botão de ‘falar’.
Enquanto ele faz isso eu consigo ver como as ruas foram tomadas e como a desgraça se alastrou pelo meu bairro. “Será que foi rápido?” “Quanto tempo demorou?” “Quem sobreviveu?”, eram perguntas que eu me fazia naquele momento, me perco em pensamentos mas ‘volto’ a realidade quando ouço Levy finalmente falar no Walk Talk:

- É ‘nois’ que voa bruxão.

Não entendo o que ele quis dizer, mas passávamos perto da ‘Artol’ quando ele disse isso e parou o carro. Rapidamente o portão da ‘Artol’ se abre e Levy põe o carro pra dentro. A Artol era um lugar grande de muros vermelhos que ficava próximo ao terminal de ônibus de Jardim Brasil II, costumava ser uma antiga fábrica ou coisa do tipo, sei lá, nunca me interessei por aquela merda. Mas parece que essa merda vai salvar o dia, eu espero que sim.
Não consigo ver quantas pessoas estavam do lado de fora do carro, não via muitas pessoas.
Levy então sai do carro e eu corro ao encalço dele, finalmente vejo que quem abriu os portões para nós foi Gabriel, ‘Biel’, ‘Costa de Vaca’, ‘Joana Bezerra’... Gabriel era um cara alto e bastante gordo, dos olhos claros e do cabelo loiro que nós dizíamos antigamente ser irmão gêmeo de Kerekexe. Levy e Biel se olham um tempo e depois se abraçam, eu fico apenas ali encolhido atrás de Levy. Biel então inicia uma conversa:

- E ai ‘Dromedário’, porque tu demorou tanto pra aparecer? O pessoal tava ficando preocupado, cadê Kerekexe e o ‘fi do demônio’?.

Eu apareço por detrás dos ombros de Levy e dou um sorriso ‘amarelo’, só aceno para Biel. Enquanto Levy abaixa a cabeça e sussurra:

- Kerekexe ta morto, ele morreu lá na lan house a alguns dias, ou semanas.

Todos nós abaixamos a cabeça, eu aperto as mãos na perna, foi culpa minha.